Narcélio Ferreira de Lima
Religioso do Instituto Nova Jerusalém e aluno da Faculdade Católica de Fortaleza
INTRODUÇÃO
Hoje
em dia se tornou muito comum não somente na sociedade brasileira, dar ênfase,
especialmente nas áreas de sociologia,
psicologia, pedagogia e antropologia o tema da juventude,
uma parte da sociedade que contribui para o seu desenvolvimento, mas que também
é alvo de preocupações nos termos de educação,
trabalho e violência. Já se falou de temas relacionados à formação da
personalidade e desenvolvimento psíquico dos jovens dentro de uma perspectiva pessoal e
social. Há também uma tentativa de bem definir o desenvolvimento biológico e a
exata faixa etária dessa fase tanto pela biologia, quanto pela psicologia e
sociologia, ou seja, a respeito da maturação e transição entre idade infantil e
idade adulta e suas respectivas modificações.
O
presente trabalho inicia-se com dados
históricos da juventude brasileira, pois, segundo a autora Fernanda
Quixabeira Machado, da Universidade Federal de Goiás, em um artigo publicado em
junho de 2004, pouco se tem trabalhado esse aspecto histórico, que poderá
apontar caminhos para futuras investigações. Segundo os autores especializados
no tema: Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt, a história da juventude se
configura como um terreno privilegiado de experimentação historiográfica (1996,
p. 10). A partir desse dado é que iniciaremos dando “pinceladas” e algumas
voltas na história do Brasil para então partirmos para os fatores culturais e
sociológicos que a juventude brasileira enfrentou e enfrenta até hoje.
Certo
de que, para uma compreensão mais clara e cristalizada a respeito do tema, é de
fundamental importância partir de sua história, pois a juventude não é apenas
uma “faixa etária” em preparação à fase adulta, ela é também uma construção social e cultural. Em nenhum
ponto e lugar da história ela deve ser definida apenas por critérios
exclusivamente biológicos ou jurídicos; sempre e em todos os lugares ela é
investida de muitos outros riquíssimos valores, mesmo com sua realidade aquém do
que esperamos.
O
presente trabalho tem como principal objetivo a reflexão sobre o quadro atual
em que se passa nossa juventude, que por sua vez representa a “classe
pensante”, por isso é nosso costume chamá-la de futuro da nação.
ASPECTOS
HISTÓRICOS
Há pouco mais de
quinhentos anos atrás, no relato em que a frota de Cabral encontrou terra, o
escrivão Pero Vaz de Caminha relatou que a “Terra Brasilis” era habitada por um
povo amável e sorridente, pacato, dotado de recursos naturais capazes de
transformar-se em uma nação rica e próspera. Podemos dizer hoje que boa parte
da expectativa de Caminha se concretizou: a independência de Portugal foi
proclamada, preservou-se seu território (muito maior do que o descrito no
relato da carta do escrivão), firmamo-nos em uma nação respeitável no nosso
planeta. O Brasil é conhecido internacionalmente pelo caráter amistoso de seu
povo... Por outro lado, deixou muito a desejar. Boa parte da população ficou
desprovida de posses, ou seja, à margem do progresso e da inclusão social.
Na
medida em que o Brasil ia se modernizando, a população rural foi trocando o
campo pelas grandes cidades. Na metade do século passado, o Brasil implantou
uma indústria moderna, começou a desenvolver uma agricultura dinâmica e
tornou-se mundialmente conhecido em algumas áreas do conhecimento.
Como
nem tudo é flores, o país também vivenciou muitas crises. Após a segunda guerra
mundial, precisamente no final dos anos 70 e após o país ter vivenciado mais de
vinte anos de regime militar, o dinamismo perdeu o fôlego, sobretudo devido o
plano de desenvolvimento governamental do presidente Garrastazu Médici. Restaram
dívida externa, país isolado do fluxo de capital internacional, inflação ao
ponto de estourar uma hiperinflação aberta, crise fiscal, aumento de impostos,
paralisação do crescimento econômico, trava do investimento, da geração de
empregos, aumento da pobreza, causando caos nos centros urbanos, aumentando
assim a delinqüência e criminalidade... Daí surge uma pergunta: “Quem mais
sofre com tudo isso?”, a resposta é: os pobres,
especialmente os jovens. Isso gerou
uma ilusão de futuro no povo brasileiro. O Brasil então deixou de ser um país
de imigrantes para se tornar emigrante. A Emigração no Brasil ocorreu em grande
escala como uma salvação na segunda metade da década de 80 onde o perfil do
emigrante eram de homens jovens e
solteiros que mudavam-se temporariamente. Desde então este fluxo vem
diminuindo, mas nunca cessou. Os emigrantes atuais são jovens de classe média baixa, classe média média e até classe média
alta que possuem famílias com filhos, no caso dos que migram para os EUA pensam
que a América é uma alternativa, já que no Brasil existe a dificuldade de
mobilidade social, além da desvalorização do real ser um estímulo também para o
êxodo. Hoje existem em média 1,5 – 1,8 milhões de brasileiros no exterior, o
equivalente a 1% da sua população total. Cerca de 70% desse número está nos
Estados Unidos. Os países mais procurados, além dos EUA são Japão e Paraguai.
Mas
nem tudo é espinho, nem tudo deve ser olhado de um ângulo pessimista! De todas
essas crises, apareceram sinais de vida e esperança para o nosso povo: a queda da mortalidade infantil e o aumento da freqüência escolar. E o mais
importante: o Brasil conseguiu estabilizar os preços e comprometer as
autoridades públicas ao criar a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), mostrando
assim sinais de maturidade. O Plano Real, criado em 1994 pelo presidente Itamar
Franco, que tinha como objetivo a estabilização econômica, deu possibilidade de
uma volta temporária ao crescimento, mesmo sabendo que o país havia se tornado
vulnerável a crises externas e alvo de crescente desconfiança dos investidores.
Em 1998 o Brasil passou pelo racionamento de energia, crescimento da dívida
externa.
Mas,
como “Deus é brasileiro” e para surpresa de muitos, as principais diretrizes da
política econômica foram mantidas e os contratos respeitados pelo novo governo
Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu a presidência do país no primeiro dia de
janeiro de 2003. Em 2004 houve queda da inflação, recuperação significativa da
atividade econômica e emprego. Após uma difícil recuperação, o Brasil entra em
2005 apresentando indicadores de crescimento em sua economia.
Fatores
como estes podem nos mostrar como e onde está a nossa juventude. Ela não
caiu do céu de paraquedas, mas é fruto de constantes lutas e conquistas, vem de
um longo processo histórico.
ASPECTOS
CULTURAIS
“Ninguém segura a juventude do Brasil!”.
Para se estudar esse objeto é necessário sondar os fatores históricos e
culturais utilizados pela juventude e que também são objetos de estudo; são
eles: CINEMA, MÚSICA, PROPAGANDA, PINTURA, CHARGE, FOTO, POESIA e TEATRO, fontes
valiosas que podem revelar o que esse grupo pensa, como se expressa e o que o
leva a se manifestar por meio de tais eventos. A pessoa que estuda esse tema
deve usar toda a sua criatividade para se chegar a uma conclusão mais sólida,
pois como falamos anteriormente, a juventude jamais poderá ser classificada
apenas como uma fase da vida humana, ela é expressão constituída de riquíssimos
valos sociais e históricos.
A
nossa sociedade brasileira passou por grandes transformações no século passado
envolvendo todos os grupos que a compõe: a política,
a religião, a sociedade e a família.
As crises político-econômicas também contribuíram para essas mudanças. Com
essas metamorfoses surgiram também vários “novos problemas” na história não
somente do Brasil, mas no mudo todo. Em 1974, na França, é lançado um livro
onde são abordados esses novos problemas.
No terceiro volume é citado o novo objeto da história: os JOVENS. (Cf.
LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre).
Estudos
sobre a história da juventude no Brasil destacam e até privilegiam as manifestações estudantis que iniciaram
pela década de 1950. Depois disso, a juventude brasileira recebeu várias
denominações. Na década de 50, intitulada “anos dourados”, a juventude ficou
conhecida como rebeldes sem causa ou juventude transviada. Na década dos
“anos rebeldes”, 1960, ela passa a ser chamada de revolucionária. Por fim, chega à década de 1990 onde se fala de uma
geração Shopping Center. Essas
nomenclaturas, na verdade são cheias de preconceitos devido o contexto
histórico da época.
Hobsbawm
(1995) comenta que, a partir dos anos 1950 a juventude brasileira vivenciou uma
espécie de ascensão, seguindo o modelo dos Estados Unidos, onde a juventude, em
especial de classe média e alta se tornava dominante nas economias do mercado
desenvolvido. Talvez estejamos no ponto de partida de tais transformações
radicais e aceleradas. Houve na verdade uma revolução no modo de pensar e fazer
a história. Essa revolução foi quebrando os paradigmas tradicionais e foram-se
criando características próprias, pois antes, os jovens seguiam uma linha talvez
“robótica”, mesmo estando a par de tudo o que acontecia na sociedade. Então o jovem
foi ocupando o seu devido lugar na história: o de ser protagonista da mesma.
Grupos até então excluídos como os prisioneiros,
imigrantes, soldados, homossexuais, mulheres, crianças, escravos e os próprios
jovens passaram a ser vistos com novo
olhar, um olhar reflexivo, e mesmo com desconfiança.
ASPECTOS SOCIOLÓGICOS
Uma palavra que caracteriza
bem o quadro do século XX é metamorfose. Hoje
o Brasil vive um processo de transição histórico. Antes, ele nunca pôde
presenciar, na sua história, um número tão expressivo de jovens. Segundo dados
da Secretaria de Planejamento, em 2003 o país possuía 33,85 milhões de jovens
com faixa etária de 15 a 24 anos, o equivalente a 19,5% de sua população total.
Hoje, segundo o IBGE, são 24,1%. O número é bem expressivo, mas é importante
ressaltar que nós ainda não possuímos a capacidade de satisfazer as aspirações
dos mesmos. Essa situação é alcançada em
condições nada favoráveis. Deficiências nas áreas de EDUCAÇÃO, TRABALHO,
CONDIÇÕES DE VIDA e a grande questão da VIOLÊNCIA traduzem-se em menos
oportunidades, especialmente porque a legislação trabalhista impõe barreiras
para isso, aumentando assim o nível de pobreza e a criminalidade, especialmente
nos grandes centros urbanos. O grau de desigualdade não diminui e a falta de
serviços sociais básicos revelam que os jovens não apenas são o problema, mas geram
problemas.
A desigualdade social
está intimamente ligada ao ambiente familiar. Não há como interferir nesses
pontos cruciais e nem oferecer ao jovem esperanças se a família não conta com
recursos básicos. O desenvolvimento não cai do céu, é fruto do trabalho do
homem, não é mágica, mas tem de chegar a todos. Enquanto no Brasil muitos se
corrompem com estratégias políticas ilícitas, milhares de brasileiros sofrem.
Mesmo com tais
melhorias educacionais em nosso país, ainda não estamos oferecendo aos nossos
jovens as oportunidades para que se eduquem. Muito tem ajudado o projeto EJA –
Educação de Jovens e Adultos, que desde 2003 já atendeu a mais de 12 milhões, porém,
o fato é que o índice de analfabetismo é surpreendente e está muito distante do
ideal proposto para um país em desenvolvimento como o nosso. O Brasil tem atualmente cerca de 16 milhões de analfabetos
e metade deste número está concentrada em menos de 10% dos municípios do país. O
gargalo está no ensino superior: apenas 12% dos jovens que concluem o ensino
médio conseguem se inserir em faculdades. No Brasil, quem
melhor se desenvolve educacionalmente são os filhos das famílias sulistas.
Além do fator
educacional, que é fundamental, mas que não é tudo, sabemos que 75% dos jovens
possuem renda própria inferior à
renda per capita da família.
A taxa anual de
mortalidade por causas externas entre a faixa etária de 20 a 29 anos supera 100
óbitos por 100.000 pessoas. A maior parte desse número está relacionado com
homicídio e acidente com transporte. Entre 10 a 29 anos, apenas 12% é de
mulheres.
CONCLUSÃO
É preciso estudar e
repensar a nossa própria história. É preciso olhar para trás, se for o caso, e
rever aquilo que acertamos e erramos, só assim sonharemos com os pés no chão. Pensamento
positivo não basta, é preciso ter mãos e pés ativos. É preciso saber para onde
se caminha, reconhecer, enquanto sociedade, as nossas limitações. Pensar criticamente
e, mesmo que pareça utópico, começar de pequenos gestos, dentro de casa, na
igreja, na comunidade, na escola...
Que problemas ameaçam a
nossa juventude de hoje?
Será que temos
condições de oferecer um futuro melhor aos nossos jovens, enquanto sociedade
brasileira?
Que futuro estamos
construindo para nossos filhos e netos?
São esses
questionamentos e outros que nos levam a olhar para nossa própria história e
tirar dela, o que temos de melhor. Já que temos um cenário de otimismo dentro
desta perspectiva, não custa nada ousar, criar, pensar... Pois Pero Vaz de
Caminha não era brasileiro, mas pensou com o coração verde-e-amarelo ao
escrever sua carta.
Encerrando com uma
frase célebre de Hegel: “Se você chama de
criminoso alguém que cometeu um crime, você ignora todos os aspectos de sua
personalidade ou de sua vida que não são criminosos!”. É muito fácil olhar
para o rosto de um jovem brasileiro e lhe preencher de conceitos, rotular suas
expressões, e repreender seu jeito de ser, porém, saibamos que eles são
responsáveis pela continuação de nossa história. Se não apostamos em sua força,
quem fará isso por nós?
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
LEVI, Giovanni
& SCHMITT, Jean-Claude (orgs). História
dos jovens I: da antiguidade à era moderna. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.
<http://www.proec.ufg.br> Acesso em 30/03/2011.
<http://en.ipea.gov.br> Acesso em 30/03/2011.
<http://www.ibge.gov.br> Acesso em
04/04/2011.
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